domingo, 25 de setembro de 2011

1º Diário de Estágio - Da Universidade à Escola Pública




Sou graduanda do 6º período do curso de Licenciatura em História, e estou em fase de Estágio em uma Escola Pública da minha cidade. Como os professores sabem, essa fase é realmente complicada, onde os graduandos vão procurar operacionalizar o conhecimento aprendido na acadêmica em sala de aula.
Esse momento para alguns alunos pode ser tido como “chocante”, e isso se deve muitas vezes a diferença entre a teoria e a prática, que poucas vezes são conciliadas nos cursos de formação inicial. Por isso é comum quando chegamos aos estágios sermos recebidos com advertências do tipo: “Aqui não é a Universidade!”, “a Universidade é só ‘balela’!”, “Vocês vão ver a realidade aqui, esqueça a Universidade!”.
Realmente não é exatamente como a gente aprende na Universidade. É por isso que por vezes se torna uma decepção para quem se depara com uma realidade tão destoante, tornando difícil a efetivação de procedimentos adquiridos na formação inicial.
Aprendemos na academia procedimentos teóricos e metodológicos de atuação, que nos auxiliam a construir nossa prática.  E usamos o espaço do estágio para testar esses conhecimentos, funcionando este, como um laboratório para o futuro professor. Para exemplificar isso podemos utilizar os mecanismos de introjeção de conteúdos dinâmicos, propostas metodológicas baseadas na articulação de saberes ensinados com saberes vividos, que são passados na academia como sugestões para operar em sala de aula.
Não obstante, esses procedimentos apreendidos na Universidade, pressupõe uma relação de reciprocidade entre professores e alunos, de maneira que se torne possível fluir a aula de maneira satisfatória.
Geralmente associamos determinados fracassos à falta de estrutura da escola, a não disponibilidade de materiais, a baixos salários, etc. Mas, quando o professor dispõe de todos estes recursos, e não encontra o retorno do aluno, em outras palavras, o aluno não se mostra interessado, ou totalmente indiferente frente a essas estratégias? Como agir quando o problema é o próprio desinteresse do aluno?
Essa é uma questão indagada por alguns colegas do estágio, bem como, professores recém-formados que atuam: de que forma se torna possível operacionalizar o conhecimento aprendido na academia, na prática docente, frente ao desinteresse dos alunos?
Diante desses problemas, propus um diálogo com meus alunos a fim de encontrar uma maneira de ensinar que os motivasse. Mas o retorno também não foi satisfatório, para não dizer péssimo. A única sugestão levantada foi “Ah professora! Nem adianta, o que agente quer é fazer nada”. Tudo bem. Depois disso cheguei à conclusão que não adiantaria propor, então decide montar grupos de debate, para que eles leem-se pequenos trechos sobre um determinado assunto, a fim de que eles ao final pudessem dar suas contribuições e a aula fluísse a partir de suas participações. Resultado: quase nenhum leu, os que leram não conseguiram extrair pontos centrais, e mais uma vez a aula não se dinamizou. Então pensei: provavelmente eles têm dificuldade de interpretação. E ai veio um insight. E decide dá a aula articulando o conteúdo, de maneira a interligar acontecimentos passados a continuidades que podem ser percebidas no nosso cotidiano. E para minha surpresa, isso também não deu certo. Conversei com todos em conjunto e em particular, para diagnosticar algum problema que pudesse vim de fora que estivesse causando tamanha desmotivação, mas não identifiquei. E isso é frustrante. Você chega a varias conclusões, dentre elas você se pergunta: Sou eu? Minha metodologia? Não tenho didática?
Conversando com alguns efetivos da mesma escola, escutei conselhos não muito animadores: “não se preocupe não é você, são eles”, “eles são burros mesmo”, “chegue lá, dê sua aula, se eles quiserem aprender, que aprendam”. 
Depois disso, cheguei à outra conclusão, mais preocupante. Como já mencionando, descartemos as debilidades estruturais e materiais da escola, também não conseguir resultados a partir de dinâmicas, temas transversais, diálogo, etc., também não creio que a desmotivação seja causada pela incapacidade cognitiva dos alunos. O que me levou a concluir que a desmotivação do alunado, pelo menos da realidade da escola na qual estagio, é causada pela desmotivação do professorado, que chega às salas de aula com pré-conceitos em relação aos alunos, desacreditando em seus potenciais e os levando a desacreditarem em si enquanto capacitados.
Pensando nisso, se torna difícil que um professor, de determinada disciplina, consiga a motivação necessária do alunado para efetivar propostas pedagógicas como estas que procurei operacionalizar, senão haver um diálogo entre os professores de outras disciplinas, assim como dos diferentes níveis – educação infantil, ensino fundamental, ensino médio – numa rede de ensino articulada e continuada.
O estágio é um momento importante na carreira de um futuro professor, embora não haja nenhum abono salarial, e por vezes sentimo-nos explorados, é nesse momento que é possível nos desligar de uma teorização do saber-fazer do professor aprendido na academia, e refletir sobre a estar professor, a partir da realidade da sala de aula. Porém mais importante que isso, é sermos expostos à reflexão dualística da realidade educacional, de maneira a pensarmos nos “dois lados da moeda”: se por um lado temos empecilhos como baixo salário e falta de infraestrutura, também, temos por outro lado, a desmotivação do professor, que por vezes não está correlacionado apenas a causas materiais.
 Isso nos leva a seguinte indagação: caso houvesse aumento dos salários dos professores da Rede Pública de ensino, isso seria o suficiente para mudar a realidade educacional brasileira, ou apenas contribuiria para uma mobilidade econômica, sem contribuir de forma significativa na instrução de crianças, jovens e adultos?
Bom, mas, isso só saberíamos se a primeira sentença se efetivasse, e como sabemos a educação no Brasil não se concretiza enquanto prioridade.
E você caro leitor, como vê essa questão?


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