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sábado, 26 de novembro de 2011

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O Jogo dos Culpados



É pratica do senso comum, e por muitas vezes de alguns teóricos, a estratégia da culpa para comportar os reverses enfrentados pela educação quando na verdade deve-se entender o problema em seu cerne e tentar chegar à um denominador comum e é neste momento que nos  atemos as possíveis remediações. Tudo passa por uma longa cadeia de eventos, uma longa cadeia de atores em posições diversas, e nesse bojo de condições podemos começar pelos senhores pais, em sua frenética preocupação pelas ditas obrigações escolares encerram toda sua subjetividade em um primeiro momento que denuncia sua busca apenas por vagas , em sua busca por resultados, que em caso de negativos expressão condições discrepantes das exigências da sociedade: Filho com reprovações igual a filho sem emprego.
Quem são os responsáveis? Voltamos aqui ao jogo dos culpados. São os professores? Os alunos? O dito e invisível sistema? Cada uma das partes adiciona reverses em suas condições de elaborar aquilo que lhe é cobrado, os pais chegam muito cansados em casa de seus trabalhos e não tem mais tempo nem cabeça para lidar com as dificuldades da educação escolarizada de seus filhos, em contraponto professores chegam às escolas cansados, sobrecarregados, frustrados, e afinal eles carregam o “terrível” ônus de serem professores o sucessores dos escravos africanos no mundo moderno, humilhados, desvalorizados e obviamente estou apenas ironizando com os discursos que são elaborados para com as atuais condições dos professores no Brasil. Ainda nesta mesma linha, temos os alunos, que sentem a escola como um lugar de opressão, obviamente levando em conta que quando se tem 10 anos de idade é melhor estar com seus colegas brincando e conversando sobre desenho animado, do que está em uma sala de aula com professores carrancudos que nos empurram garganta abaixo conteúdos enfadonhos igualmente pouco interessante, salvo as mais obvias exceções para os dois lados, tanto de excelentes professores, como de alunos com 10 anos que sabem usar uma arma muito melhor que Policiais Militares.
Bom, ainda falando sobre o nosso desajeitado quadro da educação no Brasil, temos uma bela serie de estereótipos compartilhado para as massas pelas diversas mídias manipuladas pelo governo federal, e ai temos uma escola para todos, mesmo que esse “todos” façam nos pensar em alunos que vão de carro todos os dias e alunos que andam mais de 10 quilômetros até chegar na escola apenas para descobrir que a diretoria decidiu que não vai haver aula por um motivo torpe qualquer. É essa escola que as crianças, as que conversam sobre desenhos animados e as que brincam com armas de fogo, tem que buscar para “ser alguém na vida” para ter um bom emprego, para ter uma boa casa etc.
Mas, dentro desse caldeirão chamado escola as experiências são diversas, temos muitas reprovações, temos muitas falsas aprovações, temos uma qualidade X no ensino na rede pública urbana e temos uma qualidade de ensino Y na rede publica rural, é difícil para essas crianças terminarem o 5º ano do ensino fundamental, é difícil para eles entenderem que tem que gostar mais do Professor e o seu conteúdo desinteressante do que assistir repetidas vezes seus desenhos animados prediletos, bom foi difícil para mim me desligar de Cavaleiros do Zodíaco, e é nesse contexto que vemos quantos ficam a cada etapa, quando os problemas vão migrando de falta de atenção nas aulas, para falta de comida em casa, para falta de dinheiro para comprar um tênis da moda, para falta de emprego para aquele que não tem o ensino médio completo.
Temos ai algumas ideias a muito generalizadas das quais não podemos fugir, podemos ver alguns exemplos na TV que posso contar nos dedos das mãos os da última década dos verdadeiros Heróis que descobrem que tem superpoderes e vencem 1001 dificuldades e saem da escola pública com as piores condições, humanamente imagináveis, e chegam a universidade, mais que obvio que as mídias declaram: “Vejam, é possível!” e eles nossos poucos heróis depois de tantas lutas se deixam vencer dizendo “é possível eu venci”.
Na verdade, eles deviriam denunciar tudo que passaram para conseguir seu premio final, todas as injustiças que lhes foram impostas e as marcas que ficaram para a vida toda de um tempo que não volta mais, façamos aqui um ponto e olhemos para aqueles que conseguem e aqueles que não conseguem, apagando as nocivas e propagandeadas exceções que servem apenas para pensar que as coisas estão melhorando, sabemos que a esmagadora maioria daqueles que não conseguem caminhar na educação, são pobres, são desestimulados, são os outsiders, mais um alvo da carabina de hipocrisias que há muito são muito bem reformuladas e muito bem digeridas, nesse escopo sempre tem espaço para mais uma ou duas porções de sobremesa das mentiras sobre nossas reais condições.
Destarte, o que vemos nessa escola, estamos claramente falando na escola Pública, pois nas iniciativas privadas demos desde péssimas escolas, à escolas de ponta muito bem preparadas pedagogicamente, é na nossa escola pública que enxergo um vazio... Ao olhar pelas grades, que muitas vezes envolvem nossas escolas, vemos crianças que simplesmente não entendem o sentido de estar ali, crianças que vão para lares que muitas vezes não lhes dão o sentido de estar em família, tenha ela quão composição for, qual é o lugar dessas crianças então?

domingo, 30 de outubro de 2011

Diário de Estagio 4





Semana passada pedi aos meus alunos que fizessem um pequeno trabalho, tendo por direção três questões referentes às aulas ministradas sobre cultura, onde discutimos a partir dos diferentes estilos de música o respeito as diferenças.
Fiquei muito surpresa ao ver as respostas, e achei importante estar postando aqui algumas delas. Alguns alunos escreveram coisas bastante pessoais, desabafos e preconceitos sentidos por eles.
Bom, só para situar vocês leitores as questões do estudo dirigido eram:
     1. O Que é cultura para você? E a partir disso, qual é sua cultura?
     2.Qual é seu estilo musical? Fale um pouco sobre ele?
    3.A partir das aulas sobre os estilos de música estudos em sala, fale sobre os diferentes gostos que existem em sua sala e como você vê esses outros estilos?
A seguir algumas respostas que eu destaquei para estar mostrando, sem desmerecer os que não forem mencionados.
“Eu sou um pouco preconceituosa com homossexuais, porque o homem foi feito para a mulher e não para o homem.”
Essa aluna é portadora de uma forte personalidade, na sala mantem um relacionamento conflituoso com alguns colegas, em especial um rapaz que é homossexual. Já presenciei em sala algumas atitudes preconceituosas vinda de sua parte. A partir das aulas sobre cultura, ela demonstrou uma melhoria no seu comportamento e no trato com os colegas, em particular, o rapaz homossexual.
“Cultura para mim é o modo de se vestir, modo de falar e a sua religião. Bom mim cultura é... Não sei bem, mas meu modo se falar é uma ideia que eu acho das cosias, minha religião pé nenhuma, modo de se vestir qualquer coisa tendo preto. Então qual é a minha cultura?”
Este aluno no começo do Estágio era bastante conversador, não interagia na aula. Quando eu parti para um conteúdo que envolvia coisas que ele gostava, ele começou a participar, e desde então se tornou um ótimo aluno, participativo e muito inteligente, escreve muito bem e bastante critico.
“Na minha sala são muitos gostos diferentes, mas cada um tem um gosto diferente e devemos respeitar porque devemos respeitar para ser respeitado, porque todo mundo é diferente."

“Meu estilo de música é o Rock e metal, o porque disso é que eu não escuto as músicas eu vivo elas.”

“Na minha sala tem gente que curte RAP, Hip Hop, Reggae, Funk, Gospel e Forró, mas na verdade eu não gosto porque não me sinto envolvido. Apesar disso entendo qu devemos respeitar, porque assim como eu eles devem gostar pro seus motivos, então por isso eu respeito, mesmo que não goste.”

“Cultura para mim é legal, porque cada um pode expressar as cosias que gostar de maneira diferente, e mesmo assim todos temos o direitos de ser respeitado, mesmo que nos seja diferente.”

Bom, é isso, essas foram alguma das respostas dos meus alunos sobre cultura e seus gostos, para mim foi muito proveitoso e satisfatório.

Respeitar para ser respeitado



“Esse aluno não sabe nada!”


Diante de uma sala indisciplinada, onde os alunos não demostram nenhum interesse pelas aulas, onde os alunos vivem em permanente confronto, o professor se vê desmotivado. Para muitos professores tal desinteresse é culpa dos alunos, que, embora ele esteja cumprindo seu papel em sala, não se dedicam aos estudos. Por isso é comum ouvirmos de alguns professores que se vêem nesta situação a seguinte frase: “Esse aluno não sabe nada!”.
É sabido que os alunos de hoje não são de modo algum os alunos de ontem. Não são os alunos que eu ou você professor fomos, há alguns anos atrás. Muitos alunos se mostram de fato desinteressados, e a indisciplina é uma realidade comum em muitas escolas. Porém, a escola tem sua parcela de culpa, quando recusa as mudanças, quando se recusa a mudar. É preciso rever as posturas dos professores e as condições que estão sendo criadas para que as aulas se desenvolvam. Não criar sobre a escola um pré-conceito é preciso, a escola que vimos ontem, não é mais a de hoje.
Além das condições novas, voltadas para uma aula mais dialogada que palestrada, o incentivo aos alunos, diante de um bom comportamento, de uma atividade feita, ou mesmo de um ato gentil em sala de aula, já resulta em bons frutos. Por isso sempre que seu aluno(a) tiver um bom comportamento ou boas atitudes não poupe elogios e incentivos, procure lê atenciosamente suas produções textuais, dando-lhes conselhos, deixando um recadinho escrito, com elogios e caminhos futuros.

Se seu aluno não demonstra um bom comportamento, dê bons exemplos, trate-o com educação, repreenda-o com sabedoria, procure dentro do conteúdo incentivar bons comportamentos, pequenas atitudes importantes como dar “bom dia”, pedir “com licença”, tratar bem os colegas.
Acredite isso faz toda a diferença!

domingo, 23 de outubro de 2011

DINÂMICA DE AULA


Olá aqui vai uma dica para se trabalhar um eixo temático ou capitulo de livro em seu bimestre letivo, esta dinâmica é fruto de minha própria experiência em sala de aula.
A Dinâmica consiste em dividir toda a sala em grupos temáticos que correspondem a tópicos do capitulo estudado, cada grupo deverá ter um líder que ficará responsável pelo comportamento e participação da equipe nas atividades, além disso, cada equipe será numerada para que o professor possa orientar-se melhor, neste mesmo sentido as equipe terão nomes específicos ou cores, o que irá estimular a participação dos alunos que sentissem ainda mais pertencentes ao seu grupo.
Em seguida uma aula será ministrada sobre o capítulo de forma geral, e na aula seguinte os grupos se dividem pela sala e tem inicio a competição. Cada grupo ficou incumbido de elaborar duas perguntas para cada um dos outros grupos, o que lhes fazem ler o capítulo completo, ao direcionar a pergunta ao outro grupo deve ser orientado a qual membro está sendo feita a pergunta para que desta forma todos os grupo leiam, sobre as orientações do líder, desta forma ao final é feita a contagem de pontos para verificar qual equipe é campeã, a premiação fica a critério do professor.

Sugestão: Ao participar de forma ativa na dinâmica todos deveram ganhar uma pontuação X que terá um peso maior do que aquela dada a quem ganha ou perde, neste sentido os ganhadores ganham pontos extras que podem usar em alguma de suas notas que compõe o bimestre.

Por: Diego Rocha Guedes de Almeida

Diário de Estágio 3: Trabalhando a Cultura em sala: A dinâmica dos gostos





Já vai fazer dois meses que estou dando aula, um tempo curto infelizmente, mas rico em experiência.
No primeiro relato, publicizado aqui, falei sobre as tentativas de aplicar um ensino mais organicizado, de maneira a despertar o interesse e a participação dos alunos. Porém, infelizmente não tive muito sucesso. 
Devido ao curto período de tempo, percebi que a cada aula tentava uma estratégia diferente aliado ao conteúdo e mais uma vez não tive resultados satisfatórios. Foi então que parti para uma estratégia diferente e ao mesmo tempo arriscada. 
Faço desta postagem um relato, mas também uma possibilidade a ser reproduzida para outros professores que se interessem.
Como dito, as minhas estratégias de aula sempre estiveram aliada ao conteúdo, e mesmo que correlacionado a experiência dos alunos em sua vida fora da sala de aula, eles achavam, tudo aquilo muito chato!
Porém, sem poder deixar de lado o conteúdo curricular, passei a usar uma estratégia ao avesso, invés de usar o que eles gostam para dar o conteúdo, resolve dar o conteúdo para tratar sobre seus gostos.
De que maneira isso se deu? 
Minha turma é de 7º ano, e pela sequencia deveria dar “O Encontro entre dois Mundos”, esse assunto diz respeito às expansões marítimas, e ao primeiro contato dos europeus com as civilizações mesoamericanas.
Para iniciar o conteúdo perguntei a cada um deles sobre seus gostos. Do que vocês gostam?
A principio todos ficaram meio chocados, e perguntaram o que isso tinha haver com o conteúdo.
E mais uma vez eu perguntei: Do que vocês gostam?
A partir dai cada um começou a relatar sobre o que faziam fora da escola, até que encontrei o ponto em comum e decidi partir dele para construir um terreno propicio ao conteúdo.
Entre todos os gostos e diversões, sobressaiu-se a música. Estilos diferentes, ritmos diferentes, modos de ser e ver o mundo diferente, apenas pelo intermédio da musicalidade. 
 É possível que muitos professores partilhem desta mesma realidade, alunos com celulares ouvindo música por toda parte.
Pedi-lhes então que escrevessem num pedaço de papel cinco linhas falando sobre o seu estilo musical, e porque gostavam.
E todos começaram a escrever, entusiasmados, medindo cada palavra para além de mostrar o que gostavam, passar os motivos mais sinceros e melhores justificados.
Alunos indisciplinados, que mal ouviam a aula, participaram, e deram seu parecer de formas surpreendentes.
Ao fim das cinco linhas, pedi para que cada um destacasse aquele pedaço de papel e dessem para o seu colega mais próximo.
Fazendo isso, pedi para cada um lê o que o outro haverá descrito sobre a música preferida e a justificação do seu gosto.
Por dentro dos mais diferentes gostos – rock, reggae, rap, gospel, forró, sertanejo e funk – que eles puderam perceber através dos relatos dos colegas, perguntei num primeiro momento: O que vocês notaram com o relato de seus colegas?
E eles responderam: 
 – São muitos diferentes, cada um tem uma música que gosta diferente, e gostam por motivos diferentes.
E em seguida perguntei o que eles entendiam por diferentes, e eles responderam que diferente é aquilo que não é igual. Mas igual ao que, neste caso?
E eles disseram:
– Igual ao que EU gosto.
Depois disso, apontei para M, uma aluna da sala que gosta de Rock e se veste com os outros jovens que também curtem este estilo, e perguntei?
– Se R – outra menina na sala de gosta de gospel – lhe dissesse que seu estilo de música é ruim, e que melhor é o dela, o que você diria?
M então respondeu:
– Diria para ela ouvir o meu primeiro para depois falar.
E então repliquei, e se fosse ao contrário:
– Ouviria o dela também.
E perguntei a turma:
– Porque as pessoas têm gostos diferentes?
E todos responderam:
 – Por que são diferentes.
Mas o que faz as pessoas acharem seus gostos melhores que os do outros e trata-los como “ruins”?
– A falta de conhecimento.
Muitas vezes quando temos medo, nojo, raiva, dos gostos dos outros é porque não conhecemos aquilo, apenas colocamos nossos gostos em primeiro lugar enquanto aqueles outros apenas imaginamos coisas.
Falando isso, parti para a pergunta: Como as pessoas no sudeste veem as pessoas do nordeste?
E os alunos responderam que viam apenas como matutos, pobres, falavam errado, analfabetas, etc. 
Porque eles veem o nordeste assim, perguntei?
E eles responderam:
– por que não conhecem, apenas imaginam que somos assim sem vim para cá.
Com outro exemplo, perguntei, e vocês, conhecem os gostos dos japoneses, já foram lá, ou leram sobre?
Eles responderam que não.
Mas vocês imaginam que eles comam comida crua, certo?
–sim, eles responderam.
O que vocês acham disso?
– Nojento, disseram a maioria.
E porque vocês dizem isso?
– porque não os conhecemos direito apenas sabemos o que mostra na TV.
Depois de entendido isso, dos diferentes gostos, falei a ele que isto fazia parte de uma coisa chamada CULTURA. Expliquei a eles o que era cultura, as diferentes culturas, a cultura deles –  dos alunos – , a cultura da escola, do Brasil, como nos víamos as culturas, etc. Fazendo isso, dei inicio ao conteúdo sobre as expansões marítimas, e ao primeiro contato dos europeus com as civilizações mesoamericanas, usando a questão da cultura.
– Como foi para os europeus o primeiro contato com pessoas tão diferentes?
Depois disso, falei sobre os impérios Astecas, Maias e Incas, como eles viam o mundo através de sua religiosidade, seus ritos, seus mitos, sua cultura. 
Bom, deste momento em diante a aula fluiu bastante satisfatória, além de saber que para além do conteúdo do livro, eles aprenderam um pouco sobre respeito ao “outro”.
Não é preciso um aparato tecnológico de última geração para gerir uma boa aula, o professor ainda é o mais importante mediador neste processo.

sábado, 8 de outubro de 2011

“O importante é ser e não ter”!


Há alguns dias recebi um e-mail corrente de um professor, que haverá publicado em seu Blog curiosas frases(cujo endereço segue a baixo*). 
Seguem elas:

"o professor trabalha por amor, não por dinheiro".
“Quem quer ganhar melhor, vai para o ensino privado”.
“funcionário público é motivado pelo amor e espírito público”.

As frases acima citadas foram proferidas pelo então governador do Ceará, Cid Gomes. E trata um pouco sobre a antiga postagem publicada no Diário do Educador, verificado fortemente nas palavras da professora Amanda Gurgel.
Isto é apenas uma pequena amostra da significância que é relegada à Educação, e a seus profissionais. Tais ofensivas não são de modo algum recentes, e talvez nem se apresentem como “espantosas” para alguns professores. No entanto, não deixam de suscitar em nós o sentimento de “indignação”.
Na questão salarial, aparece certa queixa por parte das instancias mantenedoras, que acusam os professores por terem uma conduta explicitamente materialista, que vivem reivindicando aumentos salariais, que perderam o senso de gratuidade, utilizando com tamanha propriedade àquela frase de efeito moral: “o importante é ser e não ter”.
Contudo, o que se esquece, é que nesta relação de ser x ter, é preciso lembrar que para ser, é preciso um mínimo ter!
A nossa sociedade é hipócrita e ambígua quando aplica aos professores o velho discurso da abnegação e do valor espiritual e formativo de nosso trabalho, quando na realidade despreza tudo o que não tem valor material.
Não se está solicitando melhores salários para que os professores possam trocar de carro todo ano, ou reformar a casa da praia, embora creia que tal atitude não mereceria ser vista como abominável, já que é tal dignificante para outros segmentos. Porque então o professor deveria ser vitimado por tal anseio?
Não obstante, muitas das reivindicações se voltam para a questão da sobrevivência como um mínimo de dignidade: poder morar, se transportar, comer, vestir, cuidar da saúde, ter um pouco de lazer, ter acesso a bens culturais, até acesso a instrumentos de trabalho (livros, revistas, jornais, cursos).

Talvez a quem diga, assim como eu já mesmo postei anteriormente, a falibilidade da correlação bom salário – melhor educação. Porém diante das citações acima enfatizadas me levaram a seguinte reflexão: por que o professor não seria digno de receber um salario mais elevado, sem necessariamente conseguir mudar o mundo, tendo em vista tantas outras ocupações, que não possuem um terço da responsabilidade do professor, no entanto, além de bem remuneradas, são altamente valorizadas?

Assim como tantos outros profissionais, passamos por um processo seletivo, chamado vestibular, em seguida passamos quatro anos numa Universidade, é Diploma o problema? Somos testados diariamente, sofremos riscos diariamente, riscos de vida. E ainda sim, somos tratados por “simples professores”, e qual a nossa parcela de culpa: querer passar conhecimento! E anexando a todos esses problemas, ainda nos culpam pela debilidade da Educação.
Se a escola é realmente tão importante, e necessária, e o também o professor, sendo o mediador desse progresso, através da educação dos alunos, por que se vê em tantas situações negligenciado, e isso no melhor dos casos, pelo Estado e pela própria sociedade?
A escola por muito tempo, e isso vigora até hoje, tem um papel de salvadora da humanidade, no entanto são evidentes as contradições de seus propósitos com os resultados e desta forma é notável o ponto que mostra que o sistema educacional não cumpriu seu papel.
À escola foi jogada a responsabilidade de mudar o mundo, e o professor, o difícil, para não dizer impossível, papel de messias, que tende a mostrar o caminho da salvação pela educação. Contraditório ao prestigio social.
Para o professor na contemporaneidade, cito Selma Garrido Pimenta (2011):

“Novas exigências acrescidas ao papel do professor. Com o colapso das velhas certezas morais, cobra-se deles que cumpram funções da família e de outras instâncias sociais; que respondam à necessidade de afeto dos alunos; que resolvam os problemas da violência, das drogas e da indisciplina; que preparem melhor os alunos para as áreas de matemática, de ciências e tecnologia para coloca-los em melhores condições de enfrentar a competitividade; que restaurem a importância dos conhecimentos e a perda da credibilidade das certezas cientificas; que sejam os regeneradores das culturas/identidades perdidas com as desigualdades/diferenças culturais; que gerenciem escolas com parcimônia; que trabalhem coletivamente em escolas com horários cada vez mais reduzidos.”

Diante disso, creio que nós professores, mereceríamos um salário que proporcione um pouco mais que condições mínimas de dignidade!



domingo, 2 de outubro de 2011

Mal-Estar Docente




Ser professor aparece como uma das profissões mais causadoras de estresse, mas será que tal fenômeno se faz presente desde sempre na profissão docente?
O estresse faz parte de qualquer profissão, principalmente aquelas que lidam com outras pessoas, do que dizer então dos professores, que além de lidar com pessoas, ainda desempenham o papel de educadores?
É sabido que a Educação no Brasil desde sempre apresenta problemas estruturais: falta de recurso, desinteresse das instâncias responsáveis, baixos salários, etc., e o estresse também comparece nesse quadro de problemas. Contudo, no atua contexto social, a classe docente passa por um processo de adoecimento, levando a exacerbação do estresse, se constituindo como doença.
Tal afirmativa pode ser vista como exagero, mas, infelizmente, os estudos disponíveis não deixam espaço para a dúvida.  Na verdade, exatos 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) de resultados constados nas pesquisas GOOGLE.
Pesquisas realizadas em diferentes Estados do Brasil, com diversos professores dos mais variados níveis de ensino. Não nos deixa dúvida sobre a problemática do estresse na profissão docente. Mas serve de arcabouço, para levantarmos a seguinte questão: o que de fato está adoecendo nossos professores?
 Não precisamos de um estudo aprofundado para chegarmos a uma reposta, pois esta é uma mistura de antigos e novos problemas, presentes, não na vida de um professor, mas, creio eu, se faz presente, de forma mais ou menos intensa no dia a dia de todos os docentes.
Resultado das transformações sociais e tecnológicas que cada vez mais exigem do professor um compromisso social e pessoal, que acaba por abarcar os mais diversos seguimentos da vida pessoal do professor, que também é sujeito.
Diante dos velhos problemas, já mencionados, e tão comentados por nós professores, e os novos problemas, associados às exigências demandadas pela sociedade e pelas instituições educacionais, que pressionam o professor a constante atualização, a dinamização, ao envolvimento, um professor que prenda a atenção dos alunos, a que chamam “professor animador”.
Professor moderno, animador, militante... Muitas vezes não sobra tempo para o(a) professor(a), que também é pai, mãe, filho, filha, sacrificando sua identidade pessoal pelo compromisso, tantas vezes injusto do professor-modelo que se quer construir.
Tamanha é a hipocrisia de se construir em cima de problemas tão significativos, novas exigências, exigências que se mostram tão ardilosas, envolvendo o lado subjetivo-afetivo do profissional, que diante das dificuldades, e da não operacionalidade das propostas, se vê desmotivado, desinteressado, e principalmente fracassado.
O mal-estar docente, no entanto, não está diretamente ligado às novas exigências, mas a este ultimo ponto: a não operacionalidade. O principal atenuante para o adoecimento dos profissionais docente é a impossibilidade de se pôr em prática certas propostas, que tão bem arquitetadas caem por terra diante da desmotivação de um alunado alienado.
A preocupação dos cursos de formação em dar voz ao aluno, entender a realidade do aluno, seu lugar social, levando em consideração seus conhecimentos pré-escolarizados, bem como, a utilização de recursos tecnológicos a fim de motivar o aluno, deixa de lado à realidade do professor, que muitas vezes sofre agressões físicas e verbais, que muitas vezes dá aula em condições precárias, que também internaliza o dever da inovação, mas se vê inutilizado pelos alunos que não o possibilita fazer seu trabalho.
É preciso entender os dois lados, é fácil ditar diretrizes, é fácil dizer o que os professores devem priorizar no ensino, é fácil apontar as falhas e dizer que tudo isso podia ser melhor se o professor “fosse assim”, o difícil é por em prática, o difícil é ser convidado a fazer papel de “animador”, o que me parece uma metáfora para “palhaço”, onde o professor precisa criar as condições para exercer seu trabalho, condições para suscitar nos alunos o interesse de querer aprender.
Sobre isso faço minha as palavras da professora Amanda Gurgel: “Em que condições estão nos pedindo para mudar o mundo?”.




domingo, 25 de setembro de 2011

Universidade X Ensino Público

“A universidade deveria gerar conhecimento sobre como melhorar o ensino público. Na prática, porém, elas ignoram a Educação básica.”

Essa frase resume uma realidade hipócrita de muitas universidades brasileiras.
Cansei de ouvir professores universitários depreciar o professor de escola pública, seja pelo seu grau de escolaridade, pelo local de trabalho, ou pelos alunos.
Nos cursos de formação isso não é diferente, pelo contrário, os professores universitários se escondem em suas teorias, e em discursos demasiado articulados, repletos de arranjos complexos, que encantam os ouvidos de quem se presta a contempla-los. Muitas vezes constroem discursos destoantes com a realidade da escola pública, que muitos formados ao sair da academia, irão atuar. Às vezes não explicita seu papel, confundindo o graduando que não sabe ao certo se está se formando em bacharel ou licenciado, embora o curso seja Licenciatura.
Por vezes se apresentam como extorsionários, que na procura pela ascensão funcional, produz aleatoriamente projetos que serão postos em prática na escola pública. Obtém dela o que lhe é necessário para a pesquisa, sem um retorno significativo.
Ouve está semana algo parecido de uma professora da Rede Pública: “Eles veem aqui [professores da Universidade], fazem suas pesquisas, dizem que trarão melhorias para a escola e para os docentes, arranca de nós o que lhes interessa, depois virão às costas e nos tratam como lixo.” (Sra. E. Professora de Filosofia da Rede Pública de ensino).
Pesquisas, projetos, monografias, teses, dissertações. Quantas produções acadêmicas não são tecidas de indagações sobre as escolas públicas? Se colocarmos na pesquisa da internet, milhares de resultados apareceram, a cerca de produções baseadas na realidade dessas escolas.
A produção atual sobre a Educação é espantosamente grande, centenas de livros são produzidos durante o ano, e possivelmente até mais. Mas, de que maneira essas discussões, e teorizações, estão de fato contribuindo para a melhoria da Educação básica do ensino público. Se levarmos em consideração a quantidade de produção acadêmica que versam sobre variados temas verificados na escola pública, comparando com o retorno advindo dessas produções convertidos em melhorias para a Educação Básica, não teremos um resultado satisfatório.
Essas questões se tornam importantes para refletirmos qual o papel da Universidade nos cursos de formação, em relação à Educação Básica nas escolas públicas? Que porcentagem da responsabilidade de melhorar a Educação Pública cabe a ela? E qual sua parcela de culpa na debilidade da Educação brasileira?


1º Diário de Estágio - Da Universidade à Escola Pública




Sou graduanda do 6º período do curso de Licenciatura em História, e estou em fase de Estágio em uma Escola Pública da minha cidade. Como os professores sabem, essa fase é realmente complicada, onde os graduandos vão procurar operacionalizar o conhecimento aprendido na acadêmica em sala de aula.
Esse momento para alguns alunos pode ser tido como “chocante”, e isso se deve muitas vezes a diferença entre a teoria e a prática, que poucas vezes são conciliadas nos cursos de formação inicial. Por isso é comum quando chegamos aos estágios sermos recebidos com advertências do tipo: “Aqui não é a Universidade!”, “a Universidade é só ‘balela’!”, “Vocês vão ver a realidade aqui, esqueça a Universidade!”.
Realmente não é exatamente como a gente aprende na Universidade. É por isso que por vezes se torna uma decepção para quem se depara com uma realidade tão destoante, tornando difícil a efetivação de procedimentos adquiridos na formação inicial.
Aprendemos na academia procedimentos teóricos e metodológicos de atuação, que nos auxiliam a construir nossa prática.  E usamos o espaço do estágio para testar esses conhecimentos, funcionando este, como um laboratório para o futuro professor. Para exemplificar isso podemos utilizar os mecanismos de introjeção de conteúdos dinâmicos, propostas metodológicas baseadas na articulação de saberes ensinados com saberes vividos, que são passados na academia como sugestões para operar em sala de aula.
Não obstante, esses procedimentos apreendidos na Universidade, pressupõe uma relação de reciprocidade entre professores e alunos, de maneira que se torne possível fluir a aula de maneira satisfatória.
Geralmente associamos determinados fracassos à falta de estrutura da escola, a não disponibilidade de materiais, a baixos salários, etc. Mas, quando o professor dispõe de todos estes recursos, e não encontra o retorno do aluno, em outras palavras, o aluno não se mostra interessado, ou totalmente indiferente frente a essas estratégias? Como agir quando o problema é o próprio desinteresse do aluno?
Essa é uma questão indagada por alguns colegas do estágio, bem como, professores recém-formados que atuam: de que forma se torna possível operacionalizar o conhecimento aprendido na academia, na prática docente, frente ao desinteresse dos alunos?
Diante desses problemas, propus um diálogo com meus alunos a fim de encontrar uma maneira de ensinar que os motivasse. Mas o retorno também não foi satisfatório, para não dizer péssimo. A única sugestão levantada foi “Ah professora! Nem adianta, o que agente quer é fazer nada”. Tudo bem. Depois disso cheguei à conclusão que não adiantaria propor, então decide montar grupos de debate, para que eles leem-se pequenos trechos sobre um determinado assunto, a fim de que eles ao final pudessem dar suas contribuições e a aula fluísse a partir de suas participações. Resultado: quase nenhum leu, os que leram não conseguiram extrair pontos centrais, e mais uma vez a aula não se dinamizou. Então pensei: provavelmente eles têm dificuldade de interpretação. E ai veio um insight. E decide dá a aula articulando o conteúdo, de maneira a interligar acontecimentos passados a continuidades que podem ser percebidas no nosso cotidiano. E para minha surpresa, isso também não deu certo. Conversei com todos em conjunto e em particular, para diagnosticar algum problema que pudesse vim de fora que estivesse causando tamanha desmotivação, mas não identifiquei. E isso é frustrante. Você chega a varias conclusões, dentre elas você se pergunta: Sou eu? Minha metodologia? Não tenho didática?
Conversando com alguns efetivos da mesma escola, escutei conselhos não muito animadores: “não se preocupe não é você, são eles”, “eles são burros mesmo”, “chegue lá, dê sua aula, se eles quiserem aprender, que aprendam”. 
Depois disso, cheguei à outra conclusão, mais preocupante. Como já mencionando, descartemos as debilidades estruturais e materiais da escola, também não conseguir resultados a partir de dinâmicas, temas transversais, diálogo, etc., também não creio que a desmotivação seja causada pela incapacidade cognitiva dos alunos. O que me levou a concluir que a desmotivação do alunado, pelo menos da realidade da escola na qual estagio, é causada pela desmotivação do professorado, que chega às salas de aula com pré-conceitos em relação aos alunos, desacreditando em seus potenciais e os levando a desacreditarem em si enquanto capacitados.
Pensando nisso, se torna difícil que um professor, de determinada disciplina, consiga a motivação necessária do alunado para efetivar propostas pedagógicas como estas que procurei operacionalizar, senão haver um diálogo entre os professores de outras disciplinas, assim como dos diferentes níveis – educação infantil, ensino fundamental, ensino médio – numa rede de ensino articulada e continuada.
O estágio é um momento importante na carreira de um futuro professor, embora não haja nenhum abono salarial, e por vezes sentimo-nos explorados, é nesse momento que é possível nos desligar de uma teorização do saber-fazer do professor aprendido na academia, e refletir sobre a estar professor, a partir da realidade da sala de aula. Porém mais importante que isso, é sermos expostos à reflexão dualística da realidade educacional, de maneira a pensarmos nos “dois lados da moeda”: se por um lado temos empecilhos como baixo salário e falta de infraestrutura, também, temos por outro lado, a desmotivação do professor, que por vezes não está correlacionado apenas a causas materiais.
 Isso nos leva a seguinte indagação: caso houvesse aumento dos salários dos professores da Rede Pública de ensino, isso seria o suficiente para mudar a realidade educacional brasileira, ou apenas contribuiria para uma mobilidade econômica, sem contribuir de forma significativa na instrução de crianças, jovens e adultos?
Bom, mas, isso só saberíamos se a primeira sentença se efetivasse, e como sabemos a educação no Brasil não se concretiza enquanto prioridade.
E você caro leitor, como vê essa questão?


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A LDB em seis testes






Avalie o que você sabe da LDB, que está fazendo 15 anos
Extraído do artigo de Rodrigo Ratier, Revista Nova Escola
Desde 1934 surgiu na Constituição brasileira uma lei que regula o sistema de educação, mas só se materializou em 1961, ano da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Versando sobre organização dos níveis de ensino, formação de professores e financiamento, a LDB original foi quase totalmente revogada pela versão mais atual, de 1996. Entre as principais conquistas da lei, que completa, em 2011, 15 anos, destacam-se a ampliação da Educação Infantil na escolarização básica, e a ampliação da autonomia de ação de redes públicas, das escolas e de professores.  Em relação ao trabalho docente, a Lei 9.394 estabelece: participar da elaboração de proposta pedagógica, do planejamento e da avaliação, zelar pela aprendizagem, estabelecer estratégias de recuperação e colaborara na articulação com famílias e comunidade.
Embora se saiba, teoricamente, da existência de uma Diretriz Nacional para a educação no Brasil, é consensual dizer que muitos professores não têm em sua formação um estudo mais aprofundado sobre essa Lei e mesmo, sobre outras voltadas à educação. Outros, que se formaram antes da homologação da LDB de 96, ou aqueles que mesmo depois da lei não foram contemplados pelos cursos de licenciatura e sabendo da existência, não procuram se atualizar sobre essas questões numa formação continuada, de forma a guiar sua prática e reivindicando seus direitos estabelecidos por lei. Não obstante, não caiamos na ingenuidade do cumprimento da Lei e da assistência do Estado, que muitas vezes sabemos, não sai do papel. Contudo é importante mantermo-nos informados, tendo em vista a importância dessas leis, como parâmetros que “orientam”, ou pelo menos deveriam, a educação, e, por conseguinte, o papel do professor.
Para você avaliar seus conhecimentos, foram selecionados seis testes de concursos sobre como a LDB impacta o dia a dia do professor:

ABAIXO SEGUE O LINK PARA O QUESTÕES

domingo, 18 de setembro de 2011

Escritores da Liberdade: Uma releitura


Esta semana assisti a um filme, indicado pela professora de Estágio I, de nome Escritores da Liberdade. E achei interessante colocá-lo como Dica de Leitura.
O filme “Escritores da Liberdade” pode ser considerado um modelo das múltiplas realidades e desafios que se fazem presentes em uma sala de aula. As histórias de vida relatadas no filme não são de modo algum casos isolados, nem específicos. São acontecimentos verificados nas variadas salas de aula, nos mais diferentes níveis de ensino, sejam eles públicos ou privados, a diversidade cultural, bem como a diferença, estão presentes nos mais variados contextos escolares. O que nos interessa no filme, sendo a sua mais rica contribuição é a metodologia necessária para lidar com esses aspectos, mas, assim como tão bem retrata o filme, essa metodologia, longe de ser passível de consumida em livros e legislações, é conquistada pelo professor na sua experiência em sala de aula, e principalmente a partir de sua sensibilidade para notá-las, entendê-las, e assim, poder a partir de sua posição, construir junto a seus alunos um caminho diferente para lidar com as diferenças e as adversidades da vida em sociedade.
O filme, baseado no diário de dois ex-alunos, que relatam, a experiência de vida que possuem dentro e fora dos muros da escola, mostra o empenho de uma professora, que na sua primeira experiência, enquanto educadora, se depara com uma sala conflituosa, composta por alunos que se dividem em gangues, cujos laços são forjados pela etnia, além do total desapoio da instituição na qual leciona por incentivos transformadores. 
Diante dessa realidade, a professora Erin Gruwell, combate um sistema deficiente, lutando para que a sala de aula se torne lugar de referencia, e acolhimento, para os estudantes que para além daquele espaço, só encontram apoio na violência. 
A sala de aula é composta por diferentes grupos, como já mencionado, divididos de acordo com sua etnia, dessa forma, podemos identificar nesse filme três grupos distintos: os negros, os latino-americanos e os asiáticos. Dentro e fora da escola esses grupos mantem uma relação conflituosa, cada qual lutando pelo seu espaço e pelos seus direitos, legitimados pelo seu grupo de referencia no qual fazem parte.

Aos poucos a professora Erin, consegue aproximar esses alunos uns dos outros, e sua principal estratégia é lhes dando voz. Ela decide, frente à falta de assistência da escola, trabalhar em outros horários para conseguir recursos suficientes para efetivar um trabalho pedagógico transformador com estes alunos. 
Sua primeira atitude é dar-lhes um caderno, que servirá como diário, onde possam escrever sobre suas experiências de vida, essa atitude é que a possibilita conhecer melhor a realidade dos estudantes e, a partir daí guiar suas aulas com o objetivo de mudança.
Certa vez li num livro, e infelizmente não lembro o (a) autor (a), que disse “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”, assim como nossas escolhas e opiniões, aspectos subjetivos são constituídos por julgamento de valores construídos ao longo da vida, por diferentes condicionantes. Falo isso, para justificar minha leitura desse filme, a partir de hipóteses que admito, se apresentam superficiais, por ainda não ter tido a oportunidade de verificar através de um estudo sistematizado. 

Sabendo que este filme foi baseado em fatos verídicos, extraídos de dois diários de ex-alunos da professora Erin Gruwell, pude perceber fatores que me parecem imprescindíveis para que tal proposta se torne possível, o que para a realidade de muitos professores brasileiros, creio eu, não procede. 
Segundo nos mostra o filme:

1º - a professora leciona em uma única escola;
2º - a professora leciona apenas em um único turno;
3º - a professora em questão possui apenas uma turma;
4º - ganha um salário de dois mil dólares na instituição em que leciona;
5º - o dualismo entre o compromisso com a profissão e sua vida pessoal.

Tais pontos não têm por finalidade desmerecer a atitude da professora, sendo sua iniciativa e seu sucesso, desejo de muito de nós professores. Assim como não objetiva se estabelecer como um ponto negativo a mais para a educação no Brasil, ou um incentivador para viramos as costas e procurar outra profissão, ou continuar reproduzindo um ensino débil. As críticas aqui levantadas não se esgotam no pessimismo e na acomodação, os eixos temáticos aqui propostos têm por finalidade básica instigar o debate e a participação de profissionais da área, para que juntos, futuros professores e professores em prática, possam trocar questões, experiências, de maneira a melhorar nossa prática, e fortalecer nossas reivindicações. Mas, para isso é preciso estabelecer um diálogo definitivo entre teoria e prática, e estar sempre procurando auxilio de uns aos outros, para construir mudanças a partir de problemas e experiências concretas de sala de aula, fazendo da teoria um suporte fincado na realidade do sistema brasileiro de ensino e de suas especificidades. Partindo dessa preocupação, a leitura do filme “Escritores da Liberdade” precisa ser correlacionada com a nossa realidade, caso contrário, sua importância se perde num romantismo cinematográfico.
Dentre os pontos que pude verificar no filme, os quatro (4) primeiro são aspectos muito diferentes da realidade brasileira. Talvez uma professora com quatro turmas de ensino fundamental e médio, que ganhe um salário mínimo, que lecione em dois horários, ou em mais de uma instituição, tenha dificuldade de reproduzir o que se propõe no filme. Não obstante, toda generalização é passível de precipitação, por isso tal exemplo não pode ser apreendido como comum a todos os professores, mas acredito que seja reflexo de um numero considerável de educadores.
Além dos quatro (4) primeiros pontos, me chamou a atenção o quinto ponto que mencionei acima, o dualismo entre o compromisso com a profissão e sua vida pessoal. No filme percebemos que a professora Erin possui um relacionamento estável, que ao entrar na escola, e ocupar-se integralmente do seu proposito, é deixado de lado, que ocasiona a insatisfação do parceiro, culminando na separação.

Com isso podemos fazer uma leitura de um dualismo que se faz presente, um ligado ao compromisso da educadora em ajudar os alunos, ímpeto que ocupa integralmente seu tempo, e outro ligado a sua vida pessoal, compromissos que ela tem enquanto sujeito, fora dos muros da escola. Esses dois aspectos entram em conflito quando não podem ser conciliados.  Não afirmo que isso não seja possível, mas, imaginem uma dada situação, em que, um (a) professor (a), tenha uma realidade profissional como àquela acima citada – dos quatro pontos -, ao anexamos a isso sua vida pessoal, - pai, mãe, filho – isso se torna um tanto quanto inviável, não é?
Mas, como já mencionado a proposta é justamente se apropriar dessa experiência e ressignificá-la para que se torne viável em nossa realidade. Então a contribuição central deste filme é a iniciativa, de se dispor a notar as diferenças, e a sensibilidade em trazer a discussão para a aula, de forma não a homogeneizar, mas harmonizá-las. A pergunta que se faz então é de que maneira podemos, nos professores, nas dificuldades e problemas presentes no nosso cotidiano, conciliando com nossos demais papeis que se apresentam para além da sala de aula, anexar essas propostas?

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Não sei se tal observação é condescendente com a leitura de outras pessoas que tenham assistido ao filme, para aqueles que tenham outras leituras, podem mandar um texto para o e-mail rochadiegoemonalisa@bol.com.br , para ser postado.

Agradeço a todos!