domingo, 18 de setembro de 2011

Os pais na escola: participar ou decidir?


Hoje li um texto, e gostaria de compartilhá-lo aqui.
O texto faz parte do livro de Jussara Hoffmann Avaliar: respeitar primeiro, educar depois, “capítulo 5: Os pais na escola: participar ou decidir?”.
Nesse texto a autora levanta a questão da participação dos pais na escola, e a crítica que alguns professores fazem com relação a isso, devido à falta de credibilidade da sociedade e da direção da escola frente às reclamações. 
Segundo a autora alguns especialistas alegam que o envolvimento e as cobranças dos pais com a educação escolar de seus filhos, gera uma maior qualidade de ensino.
Hoffmann então argumenta: a qualidade de ensino nas escolas não depende dos pais ou de sua “cobrança”, mas da atuação competente dos profissionais que ali atuam. 
Segundo a autora os pais devem sim participar da educação escolar de seus filhos, mas isso não os torna aptos a levantar rumos que a escola deva tomar, sendo esse papel de instâncias responsáveis e profissionais especializados. 
Diante das reclamações dos pais ao sistema de ensino em que estão matriculados seus filhos a autora levanta um questionamento: será que algumas atitudes dos educadores não estariam dando origem a tamanho “controle” ou “cobrança” dos pais?
Para testar sua questão a autora levanta duas hipóteses sobre a seguinte situação: uma criança doente, hospitalizada, aos cuidados de uma equipe de profissionais da saúde; um diagnóstico a fazer; um tratamento ou cirurgia a decidir. Como procedem esses profissionais em relação aos pais do paciente?

1ª hipótese: reúnem-se, estudam, debatem o caso e decidem sobre o melhor tratamento. Conversam com os pais e explicam como irão tratar a criança, usando uma linguagem leiga. Solicitam é claro, mais atenção e cuidados ao seu filho, definindo com clareza o papel dos médicos e da família.

2ª hipótese: reúnem-se, debatem o caso, concluindo que é muito difícil de resolver. Alguns profissionais da equipe mostram-se bastante desanimados, outros inseguros, há aqueles que culpam a família pelo problema diagnosticado. A equipe conversa com os pais e aponta as inúmeras “dificuldades”, apresentam-lhes algumas “linhas de ação”, e pede sua opinião a respeito, acatando decisões, mesmo que os pais não entendam do assunto ou que eles, médicos, não considerem adequado. 

Após explicitar a hipótese no exemplo acima, ela leva o leitor a transpor esta situação ao dia-a-dia das escolas brasileiras. E levanta algumas questões: Como poderão reagir os pais diante da insegurança e desanimo de muitos? Em que medida o professor responsabiliza os próprios pais pela melhoria dos estudantes em alfabetização, na aprendizagem da matemática ou em outras áreas – tarefa que não lhes compete? Poderão as famílias sentir confiança na escola que assim se comporta?
Dessa forma a autora adverte para o dever do educador em buscar sua capacitação e competências concernentes a seu papel.
Sem levar em consideração os aspectos analógicos das suas hipóteses, cuja comparação acredito não são passíveis de credibilidade, jugando ser o papel do professor diferente da de um médico, que além de lidar com questões subjetivas do aluno, não possui um manual técnico de procedimentos possíveis, chamo a atenção para a frase em destaque: Solicitam é claro, mais atenção e cuidados ao seu filho, definindo com clareza o papel dos médicos e da família.
Deixando de lado as críticas à hipótese levantada pela autora Jussara Hoffmann, essa frase é um ponto que merece atenção, tendo em vista as competências hoje demandadas ao professor. Definir com clareza o papel que a cada um compete para se chegar a uma educação de qualidade é o problema que se presencia nas realidades escolares. 
Anteriormente era possível ver na escola uma relação estável, uma educação que vinha de outros grupos, como a família, a sociedade ou mesmo a religião, que asseguravam a autoridade na figura do professor, legitimado por esses pontos de referencia. “... o professor dispunha de estruturas de regulação poderosas, que lhe permitiam circunscrever os comportamentos anômicos, gerir situações escolares apoiando-se em referencias, contextos, fortes pontos de apoio institucionais.”( MEIRIEU, 2002, p.249).
De forma mais direta, o professor na década de 70 tinha o auxilio de varias instituições na sociedade – família, Estado, religião –, que legitimavam sua atuação. Por sua vez, o que presenciamos hoje, é uma descentralização de papeis, que centralizam a responsabilidade do educar à tarefas que competiam a essas outras instâncias, para a escola, e, sendo assim para o professor. Por isso (re)estabelecer os papeis das demais instituições reguladoras é necessário para que se possa discutir a que compete o trabalho do educador.
Isso se torna imprescindível na medida em que definindo o papel dos pais, como educadores que precedem a educação formal, possibilita ao professor cumprir também seu papel.

Referências: 

HOFFMANN, Jussara. Os pais na escola: participar ou decidir? In: Avaliar: respeitar primeiro, educar depois. Editora: Mediação. São Paulo. 2009.

MEIRIEU, Philippe. A Pedagogia Posta em Xeque. In:____. A Pedagogia entre o Dizer e o Fazer: A coragem de começar. Trad. Fátima Marud – Porto Alegre: Artmed, 2002. pp.248-254.


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