sábado, 1 de outubro de 2011

Estudando a imagem em sala de aula



Muitos professores relegam as imagens que compõem o livro didático a um segundo plano, e no mais das vezes não dialogam com elas em sala de aula.
A imagem e o livro didático desde sempre caminham juntos, mas só há algumas décadas que se vem problematizando a imagem no livro didático enquanto veículo informativo, e por isso carregado de significados.
Essa recente preocupação se deve em grande parte pela expansão das fontes de pesquisa, que acabam por abarcar as imagens como elementos repletos de significantes e também significados, ou, como tão utilizado, signos.
Por outro lado temos a expansão tecnológica, que acentua consideravelmente a importância da imagem, fazendo-se necessário um estudo sistematizado, que tenha por finalidade a construção de uma metodologia de abordagem e de sua utilização enquanto fonte de pesquisa.
Não obstante, a imagem possui uma relevância bem maior, que não se finda nos livros didáticos. E isso se deve a, como já mencionado, espetacularização da imagem, cuja dinamicidade acaba por ganhar significância de tal maneira a desencadear um processo de esfacelamento das fronteiras entre o real e o virtual, o que paralelamente contribui para o enfraquecimento das relações face a face.
Trabalhar a imagem enquanto recurso pedagógico em pleno século XXI se torna imprescindível quando se objetiva contribuir para a formação crítica do aluno, que muitas vezes tem um acesso ilimitado a tais informações, sem um acompanhamento, sem uma diretiva de como ler a imagem para além do que se é dado. Porém a habitual relação que se criou com a imagem, como uma extensão do real, uma hiper-realidade, ocupa no imaginário social um lugar privilegiado, como símbolo de desejo e sinônimo de felicidade.
Dessa forma faz necessária uma metodologia de abordagem, que objetive unir Educação e Tecnologia, uma relação que não se pode mais descartar, ou simplesmente negar, haja visto, o intenso fluxo de imagens que somos acometidos diariamente.
Voltando-nos para a imagem em si, podemos perceber dois elementos que se associam a leitura imagética: a imagem que olhamos, e a imagem que enxergamos.
 A primeira se apresenta como a imagem dada, seja ela parada ou móvel, as impressões que verificamos a olho nu. Vejamos um exemplo:


Nesta imagem é possível a primeiro momento identifica-la como um comercial de cerveja, a finalidade da imagem é estimular o espectador a comprar tal produto.
Por outro lado, no exemplo acima temos uma clara manifestação da Indústria Cultural, termo cunhado por Adorno e Hokeiraimer ao designar os preceitos da escola Frankfurtiana, destarte, a imagem suscita intenções que comungam com as percepções de seu publico alvo, no caso em questões consumidores de cerveja. A imagem é vendida com os holofotes focados para o estereotipo do belo na mulher no Brasil, ambicionando seduzir os homens que veem a propaganda e leva-los a comprar tal produto.
De fato, na realidade o fato de consumir marca X de cerveja não irá lhe conduzir a quaisquer relações com a mulher apresentada na propaganda, mas a imagem esta inclinada a criar um espaço que convencionamos chamar em sociologia de uma hiper-realidade, quer seria uma situação ficada no real que leva a consciência à viver em uma realidade não palpável, no caso em questão o homem que ver a propaganda consome o produto quanto na verdade esta estimulado a consumir a associação feita à esse produto.
Tal simulação pode ou não ser apoiada em um estilo espacial, como por exemplo, ao andar pelas grandes cidades nos deparamos com aquele carro que vimos no comercial da TV.

Por mais que ele seja apenas mais um carro, a imagem que foi exaltada na propagando o eleva ao ponto de condicionarei nossos sentidos à ouvir o ronco de seu motor de forma diferente, de apreende de nosso globo ocular cores que seriam únicas daquela marca, por mais que no mesmo momento passem por nossos olhos  mais dois ou três carros com exatamente a mesma cor. Somos levados a caminhar nos impulsos que as imagens que nos são vendidas todos os dias provocam em nossa estrutura de senso da realidade, transbordando de nosso campo cognitivo, apalpando a nossas mais diversas escolhas do dia-a-dia.
Podemos dizer, neste prisma de interpretação, que as imagens constituem uma extensão de nossas escolhas e vinculações distintivas, moldando nossa identidade muitas vezes deteriorando em um minuto aspectos que levamos a vida toda para constituir.
E de que forma isso afeta a educação?
A resposta é quase que imediata: tudo. É sabido que imagens produzem necessidades e sentidos de verdade, e no mais das vezes, são os jovens que mais sofrem influencia deste tipo de informação.
Torna-se então de competência da educação escolar também, tendo em vista seu papel de mediador da formação do aluno, tratar com mais profundidade a influencia das imagens nos gostos, nos comportamentos, na produção de necessidades, de maneira à desnaturalizar o que se é consumido, como escolha individual e autônoma.
Deslocando esta discussão para a educação infantil se têm em mãos um desafio ainda maior. As crianças pequenas, por ainda não terem fortes pontos referencias, e por ainda não terem desenvolvido sua capacidade cognitiva, acabam por absorver imagens de maneira a construírem determinados tipos de gostos e comportamentos, que se não desmistificados, podem acompanha-la durante toda a vida.
Vejamos um exemplo:

Quando as meninas assistem desenhos que envolvem o mundo de fantasia das princesas Disney, elas acabam por internalizar uma série de valores éticos passados pela imagem, previamente manipulada, daquela princesa. Comportamentos como ingenuidade, fragilidade, bondade, são assimilados e exteriorizados por essas espectadoras mirins, no entanto, não são apenas estes sentimentos vendidos, gostos específicos, que estão vinculados às atitudes das princesas, modos de enfrentamento da realidade, escolhas nos acordos tácitos do dia a dia, são algumas das questões que também estão associadas às interpretações dessas imagens.
Diante dessas verificações, é que se torna importante o uso das imagens na sala de aula, aliando aos conhecimentos trazidos do convívio social e familiar das crianças e jovens, com o conteúdo a ser ministrado em sala de aula, de modo a estimular a leituras das imagens como elementos condicionados e repletos de significados subjetivos de seus autores e espectadores.

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