domingo, 18 de setembro de 2011

Escritores da Liberdade: Uma releitura


Esta semana assisti a um filme, indicado pela professora de Estágio I, de nome Escritores da Liberdade. E achei interessante colocá-lo como Dica de Leitura.
O filme “Escritores da Liberdade” pode ser considerado um modelo das múltiplas realidades e desafios que se fazem presentes em uma sala de aula. As histórias de vida relatadas no filme não são de modo algum casos isolados, nem específicos. São acontecimentos verificados nas variadas salas de aula, nos mais diferentes níveis de ensino, sejam eles públicos ou privados, a diversidade cultural, bem como a diferença, estão presentes nos mais variados contextos escolares. O que nos interessa no filme, sendo a sua mais rica contribuição é a metodologia necessária para lidar com esses aspectos, mas, assim como tão bem retrata o filme, essa metodologia, longe de ser passível de consumida em livros e legislações, é conquistada pelo professor na sua experiência em sala de aula, e principalmente a partir de sua sensibilidade para notá-las, entendê-las, e assim, poder a partir de sua posição, construir junto a seus alunos um caminho diferente para lidar com as diferenças e as adversidades da vida em sociedade.
O filme, baseado no diário de dois ex-alunos, que relatam, a experiência de vida que possuem dentro e fora dos muros da escola, mostra o empenho de uma professora, que na sua primeira experiência, enquanto educadora, se depara com uma sala conflituosa, composta por alunos que se dividem em gangues, cujos laços são forjados pela etnia, além do total desapoio da instituição na qual leciona por incentivos transformadores. 
Diante dessa realidade, a professora Erin Gruwell, combate um sistema deficiente, lutando para que a sala de aula se torne lugar de referencia, e acolhimento, para os estudantes que para além daquele espaço, só encontram apoio na violência. 
A sala de aula é composta por diferentes grupos, como já mencionado, divididos de acordo com sua etnia, dessa forma, podemos identificar nesse filme três grupos distintos: os negros, os latino-americanos e os asiáticos. Dentro e fora da escola esses grupos mantem uma relação conflituosa, cada qual lutando pelo seu espaço e pelos seus direitos, legitimados pelo seu grupo de referencia no qual fazem parte.

Aos poucos a professora Erin, consegue aproximar esses alunos uns dos outros, e sua principal estratégia é lhes dando voz. Ela decide, frente à falta de assistência da escola, trabalhar em outros horários para conseguir recursos suficientes para efetivar um trabalho pedagógico transformador com estes alunos. 
Sua primeira atitude é dar-lhes um caderno, que servirá como diário, onde possam escrever sobre suas experiências de vida, essa atitude é que a possibilita conhecer melhor a realidade dos estudantes e, a partir daí guiar suas aulas com o objetivo de mudança.
Certa vez li num livro, e infelizmente não lembro o (a) autor (a), que disse “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”, assim como nossas escolhas e opiniões, aspectos subjetivos são constituídos por julgamento de valores construídos ao longo da vida, por diferentes condicionantes. Falo isso, para justificar minha leitura desse filme, a partir de hipóteses que admito, se apresentam superficiais, por ainda não ter tido a oportunidade de verificar através de um estudo sistematizado. 

Sabendo que este filme foi baseado em fatos verídicos, extraídos de dois diários de ex-alunos da professora Erin Gruwell, pude perceber fatores que me parecem imprescindíveis para que tal proposta se torne possível, o que para a realidade de muitos professores brasileiros, creio eu, não procede. 
Segundo nos mostra o filme:

1º - a professora leciona em uma única escola;
2º - a professora leciona apenas em um único turno;
3º - a professora em questão possui apenas uma turma;
4º - ganha um salário de dois mil dólares na instituição em que leciona;
5º - o dualismo entre o compromisso com a profissão e sua vida pessoal.

Tais pontos não têm por finalidade desmerecer a atitude da professora, sendo sua iniciativa e seu sucesso, desejo de muito de nós professores. Assim como não objetiva se estabelecer como um ponto negativo a mais para a educação no Brasil, ou um incentivador para viramos as costas e procurar outra profissão, ou continuar reproduzindo um ensino débil. As críticas aqui levantadas não se esgotam no pessimismo e na acomodação, os eixos temáticos aqui propostos têm por finalidade básica instigar o debate e a participação de profissionais da área, para que juntos, futuros professores e professores em prática, possam trocar questões, experiências, de maneira a melhorar nossa prática, e fortalecer nossas reivindicações. Mas, para isso é preciso estabelecer um diálogo definitivo entre teoria e prática, e estar sempre procurando auxilio de uns aos outros, para construir mudanças a partir de problemas e experiências concretas de sala de aula, fazendo da teoria um suporte fincado na realidade do sistema brasileiro de ensino e de suas especificidades. Partindo dessa preocupação, a leitura do filme “Escritores da Liberdade” precisa ser correlacionada com a nossa realidade, caso contrário, sua importância se perde num romantismo cinematográfico.
Dentre os pontos que pude verificar no filme, os quatro (4) primeiro são aspectos muito diferentes da realidade brasileira. Talvez uma professora com quatro turmas de ensino fundamental e médio, que ganhe um salário mínimo, que lecione em dois horários, ou em mais de uma instituição, tenha dificuldade de reproduzir o que se propõe no filme. Não obstante, toda generalização é passível de precipitação, por isso tal exemplo não pode ser apreendido como comum a todos os professores, mas acredito que seja reflexo de um numero considerável de educadores.
Além dos quatro (4) primeiros pontos, me chamou a atenção o quinto ponto que mencionei acima, o dualismo entre o compromisso com a profissão e sua vida pessoal. No filme percebemos que a professora Erin possui um relacionamento estável, que ao entrar na escola, e ocupar-se integralmente do seu proposito, é deixado de lado, que ocasiona a insatisfação do parceiro, culminando na separação.

Com isso podemos fazer uma leitura de um dualismo que se faz presente, um ligado ao compromisso da educadora em ajudar os alunos, ímpeto que ocupa integralmente seu tempo, e outro ligado a sua vida pessoal, compromissos que ela tem enquanto sujeito, fora dos muros da escola. Esses dois aspectos entram em conflito quando não podem ser conciliados.  Não afirmo que isso não seja possível, mas, imaginem uma dada situação, em que, um (a) professor (a), tenha uma realidade profissional como àquela acima citada – dos quatro pontos -, ao anexamos a isso sua vida pessoal, - pai, mãe, filho – isso se torna um tanto quanto inviável, não é?
Mas, como já mencionado a proposta é justamente se apropriar dessa experiência e ressignificá-la para que se torne viável em nossa realidade. Então a contribuição central deste filme é a iniciativa, de se dispor a notar as diferenças, e a sensibilidade em trazer a discussão para a aula, de forma não a homogeneizar, mas harmonizá-las. A pergunta que se faz então é de que maneira podemos, nos professores, nas dificuldades e problemas presentes no nosso cotidiano, conciliando com nossos demais papeis que se apresentam para além da sala de aula, anexar essas propostas?

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Não sei se tal observação é condescendente com a leitura de outras pessoas que tenham assistido ao filme, para aqueles que tenham outras leituras, podem mandar um texto para o e-mail rochadiegoemonalisa@bol.com.br , para ser postado.

Agradeço a todos!

2 comentários:

  1. Olá Monalisa, vim agradecer sua visita ao Blog Educação em foco e dizer que gostei bastante do comentário que lá deixaste. Fiquei curiosa para conhecer teu espaço e digo que gostei bastante do que encontrei por aqui.
    Gostei da leitura que fizeste do filme Escritores da liberdade...Concordo que realmente é difícil conciliar algumas coisas entre profissão e vida pessoal quando não sabemos bem que lugar as coisas devem ter... principalmente nessa sociedade atual onde tudo "é culpa do professor". Mas creio que dá para mudar a situação... Principalmente se mais pessoas fizerem as mesmas leituras que você e outros professores que encontro na Blogosfera tem feito. Parabéns pelo seu espaço e pelas discussões que trem trazido aqui.
    Estarei te seguindo para acompanhar teus pensamentos...
    Ah! Continue visitando o blog Educação em foco, suas contribuições serão bem vindas. (toda terça-feira) abrimos espaço para publicações de nossos visitantes. Tenho certeza que serás bem vida. Se quiser conhecer meu blog pessoal aqui está http://trasnformandovidas.blogspot.com/

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  2. Oiii
    Eu estava procurando por este filme e achei seu blog, realmente uma análise muito bem feita e apurada.

    Parabens

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Olá, Obrigado por comentar no Diário do Educador.