domingo, 23 de outubro de 2011

A Família e a Profissão



Em qualquer profissão que atuamos na atual conjuntura ocupacional, as exigências são tão intensas que termina por invadir nossa subjetividade, espaços privados, e consequentemente nossas relações pessoais.
Além das exigências a competitividade nos sufoca a tal ponto de esquecermos todo o resto a fim de termos uma oportunidade no mundo do trabalho. Amigos, pais, filhos, lazer e diversão, são deixados de lado. Por vezes pensamos estar abrindo mão de nossos amigos e parentes, para no futuro proporcioná-los algo melhor, abrimos mão de um tempo de descano, pensando no futuro termos um maior aproveitamento dessas férias.
Não temos como negar as dificuldades presentes, nem da produtividade exigida, nem da profissionalização multifuncional exigida, do tempo escasso, da correria para garantir a empregabilidade.
Mas tal esforço existe na maioria dos casos por uma única finalidade: garantir um futuro melhor, uma vida melhor, para si e para a família. Mas isto de fato acontece? Terá valido a pena pensar na família, amigos e lazer, apenas quando se chegar ao almejado? Quando se chegará a isso? Não será substituída por mais anseios ainda não alcançados? Terá isso um lugar ideal?
Torna-se comum observarmos o distanciamento entre pais e filhos, entre esposas e maridos. Em estudos realizados por pesquisadores das mais variadas áreas do conhecimento, muitos casos de divorcio são resultado de reclamações onde os parceiros não se sentem valorizados pela falta de tempo dedicado a relação, ou, onde os filhos se envolvem com drogas, ou em situações ilícitas, devido à falta de dialogo e participação dos pais em suas vidas. Isto não é apenas notificado em famílias pobres, que na luta pela sobrevivência deixa a mercê seus filhos e filhas, mas também em famílias de alta renda, que deslocam a sua responsabilidade de tutores, a brinquedos eletrônicos e caros passeios.

Podemos perceber tal correria também na profissão do professor, que diante de tantas exigências, de tantas dificuldades postas em sua profissão, das realidades múltiplas e complexas que adentram as salas de aula, acabam por negligenciar certos segmentos de sua vida particular.
E no fim, nem percebemos o quanto isso nos desmotiva mais e mais, quando dermos pela falta daqueles que diretamente ou indiretamente davam sustentação as nossas lutas diárias, as nossas abdicações por um futuro melhor, elas não estarão mais lá, e por quem lutar?
Isto não se faz presente apenas na vida daqueles que querem garantir o seu emprego, mas, e principalmente, aqueles que lutam pela oportunidade do primeiro emprego.
Partindo de uma realidade observável como a universidade, a garantia do um bom currículo coloca os alunos numa espécie de competição pelo acumulo de certificados, emitidos por seminários, eventos, fóruns, congressos, cursos de extensão, projetos, etc. Uma corrida que exige tempo, disposição, abdicação e investimento financeiro.
Para nós que estamos na universidade, é a nossa produtividade intelectual, que é remetida a sociedade em forma de contribuição. E tal produtividade gera muita renda para os órgãos responsáveis pela emissão de certificados, sem, no entanto estar promovendo de fato, uma produtividade intelectual como retorno para a sociedade, e nem mesmo, garantindo melhores oportunidades para os graduandos.
E isto foi sentindo pro mim no inicio da graduação, quando éramos constantemente acometidos por eventos, projetos e cursos de extensão, como forma de aperfeiçoar nosso currículo. No entanto poucas dessas atividades extracurriculares eram de fato proveitosas, tendo em vista a arbitrariedade com que eram desenvolvidas.
Durante este tempo eu e meu marido, que cursamos o mesmo curso e no mesmo período, se estressávamos demasiadamente para dar conta de vários projetos que fazíamos parte, além dos cursos de extensão que eram oferecidos e nós participávamos da grande maioria, das dores de cabeça para arrecadar o dinheiro necessário para participarmos de eventos, a fim de publicizar nossos artigos. Eram tempos de correria, uma produtivade insignificante, e um distanciamento inevitável. Estávamos tão cansados que dificilmente trocávamos gestos de carinho, nossas conversas se resumiam as nossas atividades acadêmicas, e quando finalmente terminávamos o dia, o que restava era descansar com o peso de no outro dia ter que fazer tudo aquilo novamente. Até nossos sonhos, que era o momento em que podíamos descansar, eram reflexos do dia cansativo, estressado, cheio de papelada e trabalho para redigir.
Tudo isto era feita inicialmente por um único motivo, garantir uma vida melhor, juntos. Com o passar do tempo isso foi se esfacelando, até culminar numa séria discussão, onde teríamos por caminho duas opções, ou reaviamos nossos objetivos, ou pararíamos por ali. Não era mais possível levar adiante uma correria tão exaustiva se os nossos objetivos já não estavam bem delineados, não por falta de amor ou vontade, mas o desgaste cotidiano causado pelo esforço extremo, havia se revertido na impossibilidade de nos enxergarmos como casal. A partir de então decidimos regrar nossas atividades de modo a conciliar família, lazer e trabalho. O que não fez regredirmos, pelo contrário, crescemos a cada dia a partir da cumplicidade e companheirismo que aprendemos a munir.

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