sábado, 8 de outubro de 2011

“O importante é ser e não ter”!


Há alguns dias recebi um e-mail corrente de um professor, que haverá publicado em seu Blog curiosas frases(cujo endereço segue a baixo*). 
Seguem elas:

"o professor trabalha por amor, não por dinheiro".
“Quem quer ganhar melhor, vai para o ensino privado”.
“funcionário público é motivado pelo amor e espírito público”.

As frases acima citadas foram proferidas pelo então governador do Ceará, Cid Gomes. E trata um pouco sobre a antiga postagem publicada no Diário do Educador, verificado fortemente nas palavras da professora Amanda Gurgel.
Isto é apenas uma pequena amostra da significância que é relegada à Educação, e a seus profissionais. Tais ofensivas não são de modo algum recentes, e talvez nem se apresentem como “espantosas” para alguns professores. No entanto, não deixam de suscitar em nós o sentimento de “indignação”.
Na questão salarial, aparece certa queixa por parte das instancias mantenedoras, que acusam os professores por terem uma conduta explicitamente materialista, que vivem reivindicando aumentos salariais, que perderam o senso de gratuidade, utilizando com tamanha propriedade àquela frase de efeito moral: “o importante é ser e não ter”.
Contudo, o que se esquece, é que nesta relação de ser x ter, é preciso lembrar que para ser, é preciso um mínimo ter!
A nossa sociedade é hipócrita e ambígua quando aplica aos professores o velho discurso da abnegação e do valor espiritual e formativo de nosso trabalho, quando na realidade despreza tudo o que não tem valor material.
Não se está solicitando melhores salários para que os professores possam trocar de carro todo ano, ou reformar a casa da praia, embora creia que tal atitude não mereceria ser vista como abominável, já que é tal dignificante para outros segmentos. Porque então o professor deveria ser vitimado por tal anseio?
Não obstante, muitas das reivindicações se voltam para a questão da sobrevivência como um mínimo de dignidade: poder morar, se transportar, comer, vestir, cuidar da saúde, ter um pouco de lazer, ter acesso a bens culturais, até acesso a instrumentos de trabalho (livros, revistas, jornais, cursos).

Talvez a quem diga, assim como eu já mesmo postei anteriormente, a falibilidade da correlação bom salário – melhor educação. Porém diante das citações acima enfatizadas me levaram a seguinte reflexão: por que o professor não seria digno de receber um salario mais elevado, sem necessariamente conseguir mudar o mundo, tendo em vista tantas outras ocupações, que não possuem um terço da responsabilidade do professor, no entanto, além de bem remuneradas, são altamente valorizadas?

Assim como tantos outros profissionais, passamos por um processo seletivo, chamado vestibular, em seguida passamos quatro anos numa Universidade, é Diploma o problema? Somos testados diariamente, sofremos riscos diariamente, riscos de vida. E ainda sim, somos tratados por “simples professores”, e qual a nossa parcela de culpa: querer passar conhecimento! E anexando a todos esses problemas, ainda nos culpam pela debilidade da Educação.
Se a escola é realmente tão importante, e necessária, e o também o professor, sendo o mediador desse progresso, através da educação dos alunos, por que se vê em tantas situações negligenciado, e isso no melhor dos casos, pelo Estado e pela própria sociedade?
A escola por muito tempo, e isso vigora até hoje, tem um papel de salvadora da humanidade, no entanto são evidentes as contradições de seus propósitos com os resultados e desta forma é notável o ponto que mostra que o sistema educacional não cumpriu seu papel.
À escola foi jogada a responsabilidade de mudar o mundo, e o professor, o difícil, para não dizer impossível, papel de messias, que tende a mostrar o caminho da salvação pela educação. Contraditório ao prestigio social.
Para o professor na contemporaneidade, cito Selma Garrido Pimenta (2011):

“Novas exigências acrescidas ao papel do professor. Com o colapso das velhas certezas morais, cobra-se deles que cumpram funções da família e de outras instâncias sociais; que respondam à necessidade de afeto dos alunos; que resolvam os problemas da violência, das drogas e da indisciplina; que preparem melhor os alunos para as áreas de matemática, de ciências e tecnologia para coloca-los em melhores condições de enfrentar a competitividade; que restaurem a importância dos conhecimentos e a perda da credibilidade das certezas cientificas; que sejam os regeneradores das culturas/identidades perdidas com as desigualdades/diferenças culturais; que gerenciem escolas com parcimônia; que trabalhem coletivamente em escolas com horários cada vez mais reduzidos.”

Diante disso, creio que nós professores, mereceríamos um salário que proporcione um pouco mais que condições mínimas de dignidade!



2 comentários:

  1. Realmente é a cruel realidade de nossa classe.
    E para felicidade geral dos governantes é melhor um povo sem cultura e sem ambição.
    Pois a ignorancia e a falta de coragem para lutar pelos direitos do cidadão favorece a insana ambição de politicos corruptos e inabeis para exercerem a função de governantes.

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  2. O problema não é falta de cultura, é justamente essa nossa cultura pacifista e acomodada que legitima. Mas faço minhas suas palavras, nosso silêncio colabora para fortalecer esses discursos.

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